sexta-feira, 10 de abril de 2009

MENSAGEM DO NOSSO PÁROCO, PADRE CARLOS ALMEIDA, PARA A SEMANA SANTA


Sobre a Ternura de Deus


Estes dias debruçamo-nos sobre a paixão, a morte, a vida que se entrega, o abandono, o medo, a confiança... A profundidade do ser humano, capaz do melhor e do pior; e sobretudo sobre a ternura de Deus, capaz de um amor que se esvazia de si para preencher o outro. Aí estão também as nossas dores e as nossas esperanças...

"Cresceu na sua presença como um rebento, como uma raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente". (Is 53, 2) Na paixão o supérfluo desaparece. O artificial não existe. O ruído cala-se e concentra-se a atenção no essencial: o serviço como tarefa; o amor como motivo. Desvanece-se o que distrai o nosso olhar, e a atenção centra-se no coração do Evangelho: um Deus que nos ama com loucura, a si, a ti e a mim, tal como somos.

"O Senhor Deus ensinou-me o que devo dizer, para saber dar palavras de alento aos desanimados". (Is 50, 4) Não há nada mais enganoso do que ver as coisas de longe, de cima, misticamente. Jesus aproxima-se dos infernos deste mundo. Agacha-se, para chegar mas baixo, onde estão os que não têm quem os alcance. Jesus aprende a ver com os olhos feridos do inocente do golpeado; com os olhos implorantes do homem abandonado; como os olhos serenos do justo que trabalha na consciência; Jesus vê como os olhos cansados de quem põe tudo em jogo; com os olhos húmidos de quem chora os prantos deste mundo. O olhar próximo transforma-nos de espectadores em protagonistas de uma história eterna. Somos assim convidados a pensar nas coisas, as vidas, as pessoas, que vemos próximo. Olhar à nossa volta e implicamo-nos, fundir um pouco da nossa história com outras histórias, quase com todas as histórias, desejando a cura de cada ferida.

"Cantai, ó céus! Exulta de alegria ó terra! Rompei em exclamações, ó montes, porque o Senhor consola o seu povo e compadece-se dos desamparados" (Is 49, 13) Alegre, si! Porque a palavra é de vida e de esperança. As sombras retiram-se e permitem vislumbrar a glória de Deus, a festa do homem. Podemos ver um mundo sanado, ainda que por vezes não pareça. Porque a palavra definitiva de Deus é um canto de amor. A sua carícia sana as feridas. O mal não vence. Alegre porque o caído encontrará força para levantar-se da sua derrota. Porque o verdugo calará, confundido (e quem sabe convertido). Alegre porque Deus e o próximo preenchem a solidão, dão sentido e convertem em canto o silêncio antes desabitado. Somos assim convidados a não olhar o mundo pela sombra ou pela queixa, pela tradição. Mas olhá-lo procurando nele os olhares de Deus, os milagres quotidianos, as pequenas ou grandes vitórias do amor, da festa, da vida.

Feliz Semana Santa para todos.


Padre Carlos Almeida


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