quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Carta da Família Vicentina



Lisboa, 1 de Janeiro de 2010


Aos
Sacerdotes, responsáveis das comunidades cristãs
Superiores das comunidades religiosas
Movimentos de Apostolado



Há 350 anos desapareciam duas pessoas que marcaram a sociedade e a Igreja do seu tempo de tal modo que se tornaram protagonistas numa viragem irreversível para a modernidade. Trata-se de Santa Luísa de Marillac ( Março de 1660), declarada pelo papa João

XXIII, em 10 de Fevereiro de 1960, Padroeira de todas as Obras Sociais Cristãs, e de S. Vicente de Paulo (Setembro de 1660) declarado pelo papa Leão XIII, em 2 de Maio de 1885, Padroeiro especial de todas as Obras de Caridade. Todos nós, particularmente herdeiros do seu carisma e que constituímos a "Família Vicentina", ao iniciar a celebração desta efeméride, vimos partilhar convosco o nosso júbilo e a nossa acção de graças, e pedir-vos que os façais também vossos.



I - Neste gesto de partilha, salientamos algumas atitudes que marcaram a maneira de agir destas duas figuras humanas e cristãs:

1. Olhar atento sobre a realidade do seu tempo. A desorganização social provocada pelas guerras, epidemias, interesses de classe, o afastamento da Igreja das populações, a ignorância religiosa, a corrida ao poder, tudo isto cavou fossos profundos separando as pessoas e abrindo feridas insanáveis. Mas nada disto escapou ao olhar atento e escrutinador de Vicente de Paulo e de Luísa de Marillac.

2. Capacidade de acção caracteriza estas duas vidas. Diante dos desafios, a atitude nunca foi de lhes voltar as costas mas de lhes dar resposta, de mudar a situação, de melhorar as condições de vida das pessoas.

3. Formação cristã, pela evangelização, e a resolução dos problemas sociais, pela caridade cristã, eram as duas ideias fundamentais que moviam S. Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac.

4. Mobilização do laicado cristão para as grandes causas da Igreja e da Sociedade desencadeando, no seio destas, um dinamismo renovador.

5. Organização e estruturação da Caridade de modo a rentabilizar recursos, tantas vezes desperdiçados. A caridade cristã, com S. Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac começa a exprimir-se de uma forma estruturada, estável e permanente e não ocasional e episódica.

6. Associação dos beneficiários ao desenvolvimento e dignificação, que o seu engenho pastoral desencadeava, não os deixando cair num mero assistencialismo passivo e entorpecedor que mata o espírito de iniciativa e adormece a liberdade.



II - Algumas iniciativas ainda marcam a sociedade e a Igreja de hoje:

- A formação permanente do clero, através das chamadas "Conferências das Terças-Feiras", faz-nos lembrar as reuniões mensais das vigararias ou arciprestados indispensáveis para uma boa acção pastoral.

- A santidade de vida e uma formação pastoral e intelectual dos sacerdotes, obtidas nos seminários, continuam a ser objectivos da Igreja de hoje, particularmente neste ano sacerdotal, como o foram de S. Vicente de Paulo para a Igreja do seu tempo.

- A preocupação dos nossos pastores em educar cristãmente os adultos para que estejam aptos a dizer, perante todos, as razões da "esperança que os anima" lançou, no século XVII, Vicente de Paulo nas "Missões Populares" percorrendo a França do seu tempo.

- A preocupação em organizar as Comunidades cristãs para que cuidem dos seus doentes e idosos levou-o a criar os grupos paroquiais chamados "Caridades" de que o tão falado apoio domiciliário do nosso tempo é continuidade. A capacidade organizadora de Santa Luísa de Marillac fez com que esta iniciativa pastoral e caritativa se transformasse em marca dos tempos modernos

- A convicção profunda de que as injustiças sociais não se resolvem pela luta de classes mas pela aproximação das pessoas, de maneira a reconhecer-se a sua "eminente dignidade" levou-o a conviver com pobres e com ricos de maneira a esbaterem-se as diferenças.

- A certeza de que a caridade cristã é libertadora fez com que da caridade de assistência, por vezes indispensável, passasse a uma caridade de promoção e de desenvolvimento. "Que os agricultores aproveitem bem as sementes e as alfaias agrícolas porque para o ano não será possível continuar mandar-lhe trigo para os alimentar", escrevia S. Vicente de Paulo a um dos seus padres encarregado de distribuir alimentos.



III- Esta iniciativa de lhe escrever é não só para partilhar consigo a nossa alegria mas também para lhe garantir que pode contar com a colaboração de cada um dos grupos que constituem a "Família Vicentina" em Portugal para tornar viva, na sua comunidade, a herança espiritual de S. Vicente de Paulo e de Sta Luísa de Marillac. Para a concretização de qualquer acção neste sentido tome a liberdade de contactar o grupo que melhor responder às suas preocupações.


Colaboradores da Missão
Filhas da Caridade
Congregação da Missão
Juventude Mariana Vicentina
Sociedade de S. Vicnte de Pauto
Associação da Medalha Milagrosa


Família Vicentina,
Rua do Século, 152,2º

1200-437 Lisboa



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