«Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te apareci: para te constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que ainda te hei-de mostrar. Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou enviar-te para lhes abrires os olhos, e fazê-los passar das trevas à luz, e da sujeição de Satanás para Deus» (Act.26,16ss).
A 25 de Janeiro celebra a Igreja a conversão do Apóstolo São Paulo. Toda a Igreja dá graças a Deus pela conversão deste Apóstolo, pela sua divina vocação e pela sua missão específica de pregar o Evangelho aos gentios. Foram tão grandes os benefícios que a Igreja recebeu da poderosa mão de Deus pelo ministério de São Paulo que, em sinal de agradecimento, quis celebrar particularmente o acontecimento da conversão do glorioso Apóstolo.
Merece destaque especial na vocação de São Paulo a sua conversão, pois o acontecimento de Damasco foi fundamental para ele. A leitura dos Actos dos Apóstolos (Act.9,1-22) mostra-nos a importância do que sucedeu naquele providencial meio-dia a caminho de Damasco. A mudança de nome que ocorre, de Saulo para Paulo é sinal de uma radical mudança de vida. A experiência vivida por este grande homem é, sobretudo um dom, uma iniciativa de Cristo, que o chamou a uma vida nova (Act.9,15). O cristianismo é um acontecimento concreto, é um encontro entre Deus e o homem em Cristo. Saulo encontra-se com Cristo a caminho de Damasco, deste encontro pessoal e intimo com o Mestre, percebe que só Ele pode dar sentido à existência humana e à sua em particular: «Para mim viver é Cristo e morrer é lucro »(Fl.1,21). Toma consciência do amor que Cristo tem por ele, de “apaixonado" perseguidor converte-se em apaixonado mensageiro da fé. O encontro será de modo palpável, que o irá comparar a esse outro com o qual os Doze foram agraciados após a Ressurreição de Jesus (1Cor. 9,1; 15,8). Ele próprio, Paulo, se designará a si mesmo como apóstolo, palavra que significa enviado (Gl.1,1). Qualquer vocação é um chamamento, Paulo é chamado e enviado por Cristo. Perante a relutância de Ananias, o Senhor diz-lhe: «Vai, porque esse homem é o instrumento escolhido por Mim, para levar o meu nome ao conhecimento dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel» (Act.9,15).
Existem três conceitos que se interligam necessariamente, o que para Paulo é clarividente, vocação-comunhão-missão. Ele próprio afirma: «Mas, quando aprouve a Deus, que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça, revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios »(Gl.1,15).
Nas suas cartas, Paulo não refere nenhum fenómeno extraordinário ligado ao acontecimento de Damasco. Não fala do cavalo que Rubens, Caravaggio e Miguel Ângelo representarão na cena da sua conversão. Nas cartas de Paulo é tudo muito mais sóbrio. Do acontecimento, Paulo recorda o profundo significado espiritual, o choque que foi para a sua vida, a iluminação interior que daí derivou.
Por intermédio de Lucas vai ao ponto de precisar as palavras que ouviu: «Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te apareci: para te constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que ainda te hei-de mostrar. Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou enviar-te para lhes abrires os olhos, e fazê-los passar das trevas à luz, e da sujeição de Satanás para Deus» (Act.26,16ss).
No decorrer da descrição da conversão de São Paulo há uma constante marca de eclesialidade. Quando o Senhor aparece a Paulo diz-lhe que é Jesus a quem ele persegue, ele perseguia a Igreja. Também na mediação querida por Deus através de Ananias, no facto de Paulo receber o baptismo, no passar alguns dias com os discípulos de Damasco, vemos essa marca que estará presente na teologia Paulina, a Igreja como Corpo de Cristo. A conversão de São Paulo dá-se pela Igreja e na Igreja de Cristo. Daí que a vocação de São Paulo só se entenda no serviço à Igreja, mesmo que seja uma Igreja nascente e a dilatar até aos confins da terra, a todos os homens.
Ao celebrarmos a conversão de São Paulo vivemos a esperança da mudança das nossas vidas, do verdadeiro encontro com Jesus Vivo, vivemos a esperança do perdão. Afirma São Bernardo: «Quem pode desesperar-se pela enormidade de qualquer delito, ao ouvir que Saulo respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor e que num instante fica convertido em instrumento eleito? De maneira extraordinária realça-se nesta conversão excepcional a amplitude da misericórdia e a eficácia da graça.»
O Senhor, a Paulo abre os olhos de uma forma prodigiosa, para que também ele possa abrir-lhes os olhos, para que não andem mais às escuras, mas tenham luz (Act.26,18). É um prodígio que o Senhor está pronto a repetir em cada um de nós.
Fonte: PML
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