Celebrar o Natal em Ano da Fé é centrá-lo verdadeiramente na Pessoa de Jesus Cristo e purificar as motivações e modos de o viver tornando-o mais verdadeiro e mais rico de sentido. O Santo Padre Bento XVI, neste Ano da Fé, convida a Igreja a conduzir os homens para a amizade com Jesus Cristo e lembra-lhe que “sucede, não poucas vezes, que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora esse pressuposto não só deixou de existir como, frequentemente, acaba até negado” (Porta Fidei, 2). No Natal celebramos o nascimento de Jesus Cristo “autor e consumador da fé”; n’Ele, celebramos o encontro de Deus com os homens e dos homens com Deus; celebramos a Incarnação do Verbo, o primeiro e único acontecimento à escala do Universo capaz de fomentar a verdadeira globalização da humanidade com respeito pela autonomia e cultura dos povos e interessada pelo seu desenvolvimento e bem-estar. Este dinamismo imparável rumo à comunhão universal iniciada por Cristo, mesmo que o possamos julgar lento, vai acontecendo progressivamente porque está alicerçado na lei do Amor e na economia da Graça que enriquece e compromete na promoção da pessoa e na transformação do mundo. Na verdade, os construtores deste mundo novo em que Ele, o Menino do presépio, será tudo em todos, são, com a força do Espírito, todos e cada um dos cristãos já espalhados pelo mundo e também aqueles homens e mulheres de boa vontade que têm consciência da sua dignidade, do valor transcendente da pessoa, do sentido da sua existência e creem que esta vida não é realidade “última”, mas “penúltima”, como afirmava João Paulo II.
Celebrar o Natal no silêncio do presépio, e fora do buzinar consumista, ajuda a reavivar a fé, a penetrar um pouco mais no mistério do amor de Deus que vem para nos salvar e se revela em Cristo e por Cristo. Nas suas palavras e atos, nos seus silêncios e sofrimentos, na sua maneira de ser e de falar, tudo, tudo em Cristo é revelação do Pai. Por isso, Ele pôde dizer: “Quem me vê, vê o Pai”, e o Pai quis testemunhar: “Este é o meu Filho, o meu eleito: escutai-O” (cf. Catecismo da Igreja Católica, 516).
Com a luz que brota do presépio, congratulamo-nos com todas as pessoas de boa vontade que lutam pelos direitos humanos, pela verdade, pelo bem e pela justiça: são valores evangélicos; esperamos que cada cristão e cada família cristã se deixem conduzir e fortalecer pela pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, para que possam, com mais determinação ainda, prosseguir nesta alegria de O escutar, seguir e anunciar, sendo testemunhas credíveis da fé e da esperança.
Lembrando a crise que nos envolve, queremos estar próximos e solidários com todos aqueles que a sofrem e sentem mais dolorosamente. Porque somos cristãos, somos pessoas de esperança, daquela esperança que tem como fundamento e garante a pessoa de Jesus Cristo. Nas presentes circunstâncias, porém, pedimos a todos os diocesanos a solidariedade pessoal, familiar e de vizinhança, a partir da fé, para que a ninguém falte a beleza e a ternura do Natal, “Páscoa escondida”, e todos possam celebrar a vida, a família, a solidariedade e a fraternidade universal, alicerçada no amor do Deus Menino.
Feliz Natal para todos.
Antonino Dias
Bispo de Portalegre - Castelo Branco
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