domingo, 18 de abril de 2010

Homilia no III Domingo de Páscoa C 2010


1. Nem à terceira é de vez! Pedro e outros apóstolos, voltam ao tempo «antes de Cristo», e retomam a pesca, a actividade de antigamente! Como se três anos de caminho e de amizade com Cristo, fossem por água abaixo, numa desilusão dolorosa, e sem remédio! Apesar das aparições do Ressuscitado, uma e outra vez, não é, de facto, à primeira que estes amigos de Jesus vencem o medo e se convencem da presença viva do Senhor! Mas Jesus volta, para reanimar a confiança dos discípulos, para os confirmar na fé, para os fazer voltar ao primeiro amor! No sinal da abundância de peixes, perceberam mais uma vez, que, sem Jesus, nada podiam fazer. Mas com Ele, é sempre possível recomeçar! Aprendamos também nós hoje, esta lição do amor divino, que cura as nossas feridas, refaz o tecido dos nossos afectos e nos reconcilia com a nossa própria miséria! Mas, para isso, fixemo-nos, no diálogo entre Jesus e Pedro, no final de mais uma refeição (cf.Jo.21.15-23)!

2. Nesse diálogo, o evangelista revela um jogo de palavras muito significativo, à volta do verbo amar. Atentos ao texto e ao rigor das palavras, reparamos que Jesus pergunta a Pedro, pela primeira vez: "Simão... tu amas-Me, com um amor total e incondicionado”? Antes da experiência da traição o Apóstolo teria certamente respondido: "Amo-Te incondicionalmente". Agora, que conheceu a amarga tristeza da infidelidade, o drama da própria debilidade, diz apenas: "Senhor... tu sabes que sou deveras teu amigo, isto é, "amo-te com o meu pobre amor humano"! Cristo insiste: "Simão, tu amas-Me, com este amor total, que Eu quero de ti?" E Pedro repete a resposta, do seu humilde amor humano: "Senhor, tu sabes que eu sou deveras teu amigo". Pela terceira vez Jesus pergunta a Simão: "tu amas-me, com esse amor de amigo?" Simão compreende que, para Jesus, é suficiente o seu pobre amor humano, o único de que é capaz, e contudo sente-se entristecido, porque o Senhor teve que lhe falar daquele modo. Por isso, responde: "Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!"

3. É caso para dizer que Jesus se adaptou a Pedro, e não Pedro a Jesus! É precisamente esta adaptação, esta condescendência divina de Jesus que dá esperança a Pedro, que então conhecera o sofrimento da infidelidade. Surge daqui a confiança, que o torna capaz do seguimento até ao fim! De facto, irmãos caríssimos, o amor de Cristo por Pedro não teve limites. Jesus não disse: «Pedro tens de mudar e converteres-te noutro homem, para que eu possa voltar a amar-te”. Não. Bem pelo contrário, disse-lhe: «Tu és Pedro e eu amo-Te; será o meu amor por Ti a fazer de ti um homem novo».

4. A partir daquele dia, Pedro "seguiu" o Mestre, com a clara consciência da sua fragilidade; mas esta consciência não o desencorajou! De facto, ele sabia que podia contar com a presença do Ressuscitado. Pedro alcançou assiom a confiança naquele Jesus, que se adaptou à sua pobre capacidade de amor. Para Pedro foi um longo caminho que fez dele uma testemunha de confiança, e "pedra" da Igreja. Ouvíamo-lo já na primeira leitura: com que ousadia e desassombro anunciava a ressurreição!

5. Neste Domingo, e à luz destas reflexões, sugeria duas aplicações muito concretas:

Primeira: Estamos no início da Semana das Vocações! Recordamos então “a amizade com Cristo, como elemento fundamental e comprovado de toda a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada(Bento XVI, Mensagem para o 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações). Jesus não escolhe, para O seguir e servir, pessoas impecáveis ou infalíveis! Escolhe gente como tu, escolhe gente como nós! Enquanto o amor humano anda a reboque das perfeições que o amado tem, o amor de Cristo, pelo contrário, (re) concilia-se com todas as nossas imperfeições e fraquezas! Sabemos que Jesus se adapta a esta nossa debilidade. Nós seguimo-lO, com a nossa capacidade de amor e sabemos que Jesus é bom e nos aceita, como somos!

Segunda: Estamos a poucos dias da Visita do Papa a Portugal. O Papa é o sucessor de Pedro e excerce na Igreja o primado do amor! “Há quem venha ter comigo para dizer que ainda não se habituou a este Papa; que o Papa da sua vida era João Paulo II e que, deste, não gosta. Quando tento perceber porquê, os argumentos são dos mais variados: porque este é alemão, porque o outro era mais simpático... Tinha olhos azuis e este não é tão bonito. Enfim, invocam-se, gostos pessoais e simpatias, como se isso bastasse para avaliar um pontificado. Muitos católicos permanecem entrincheirados no seu sentimentalismo e nem sequer fazem um esforço para conhecer o actual Papa, para se interessar pelo que ele diz ou escreve. Em última análise, trata-se de uma fuga à realidade, que não serve para nada, nem ajuda a viver os desafios do tempo presente. Há já cinco anos que Bento XVI é Papa e está prestes agora a dedicar quatro dias do seu pontificado a Portugal. Será que o merecemos” (Aura Miguel, Rádio Renascença, página 1)?

Sim. O Papa vem até nós, numa fase delicada, e particularmente difícil, do seu ministério pastoral, com muitas feridas abertas, no Corpo da Igreja! Vem como Pedro, "testemunha dos padecimentos de Cristo" (1 Pd 5, 1) e da sua Ressurreição. Vamos ao seu encontro, de braços abertos, acolhendo a sua grande sabedoria, num Ano de Missão. Digamos-lhe, de coração aberto: Querido Papa Bento XVI, não te canses! Não desanimes! Estamos conTigo e Contigo caminhamos na Esperança!


Fonte: ABC da Catequese


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