RENÚNCIA QUARESMAL
Nos três primeiros séculos da Igreja não havia necessidade da Quaresma como tempo de preparação para a Páscoa. O cristão vivia com exigência a sua opção por Cristo e a fidelidade ao seu Baptismo. “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações”, verdadeiro segredo da sua coerência, vitalidade e fervor missionários.
Pelo século IV começaram os primeiros sinais da celebração da Quaresma que se foi estruturando como tempo de preparação para a Páscoa. Tinha uma dimensão baptismal e outra penitencial. Passava pela caminhada catecumenal, pelo jejum e abstinência, pela reflexão da Palavra e oração, pela conversão, esmola e dinâmica sacramental.
Ainda hoje a Quaresma é um tempo de graça que não dispensa a reflexão da Palavra, a oração, o jejum, a abstinência, a esmola e os sacramentos. No início da Quaresma, porém, costuma anunciar-se o destino a dar ao produto da renúncia feita com amor ao longo deste tempo. Olhando à volta, facilmente constatamos que vivemos em tempos de crise e de pobreza reconhecida e envergonhada que destrói e mata lentamente. A miséria entrou na casa de muita gente e constitui uma ameaça para outra. Não podemos deixar morrer, nos mais atingidos, a esperança de um futuro mais risonho. A caridade é criativa, discreta e libertadora. A Páscoa encerra o ideal revolucionário do cristão: dar e dar-se em verdade e amor.
Nesta preparação para a Páscoa, convido todos os diocesanos a se inserirem na caminhada de conversão e a partilharem as suas renúncias, jejuns e abstinências com aqueles que são mais pobres e imploram ajuda.
Um pintainho para São Tomé e Príncipe
Na nossa Diocese de Portalegre-Castelo Branco, a renúncia quaresmal deste ano terá duas finalidades:
– Uma parte ficará com a Cáritas Diocesana. Com a discrição que lhe é peculiar, saberá manifestar a presença da comunidade cristã, através dos Grupos Cáritas ou da diversidade dos Movimentos ou Grupos Sócio-Caritativos da Diocese, junto daqueles casos a quem a comunidade local não possa dar resposta e lhe apresente a situação devidamente fundamentada.
– Outra parte irá, através e ao critério da mesma Cáritas, para São Tomé e Príncipe. O Presidente da Cáritas Diocesana fez parte de uma Delegação Nacional que recentemente visitou aquele País no âmbito da cooperação já existente. Continuar a ajudar aquele povo irmão a viver com o mínimo de dignidade é um desafio que a Cáritas Portuguesa tem assumido com amor e persistência. Desta vez, para além dos projectos já em curso no terreno, trouxeram outras preocupações que querem ajudar a resolver.
A Caritas da nossa Diocese de Portalegre-Castelo Branco assumiu duas linhas de apoio:
1- Conceder à Paróquia de Santana um subsídio de 750 euros, o suficiente (!) para as obras de adaptação e equipamento de uma creche;
2- Ajudar a criar um aviário na Roça “Bôbô Fôrro”, exploração agrícola e pecuária pertencente à Caritas de S. Tomé. O produto da venda do que ali se vier a criar e produzir destina-se à superação das inúmeras carências que têm as crianças de S. Tomé e Príncipe. É esse o objectivo.
Para concretizarmos esta colaboração, sujeitaremos toda a nossa campanha de renúncia quaresmal ao slogan: “um pintainho para São Tomé e Príncipe”. (Um pintainho: um euro). Procuraremos envolver nesta campanha, de uma forma muito especial, todas as crianças, adolescentes e jovens da nossa Diocese com as iniciativas que eles mesmos, os párocos, os catequistas, os movimentos e as famílias forem capazes de dinamizar para que também as novas gerações se habituem a pensar e partilhar com os mais pobres, não o que lhes sobra, mas o fruto das suas renúncias, jejuns e abstinências sofridas e voluntárias por amor aos outros.
D. Antonino Dias - Bispo de Portalegre-Castelo Branco
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