Nestes dias de Semana Santa escutaremos alguns textos sagrados conhecidos como cânticos do servo do Senhor.
Neles fazemos memória do mistério de Deus sofredor, do filho de Deus entregue à morte… e, ao celebrarmos estes mistérios antecipamos já a glória da sua ressurreição.
Deixemos que durante esta Semana Santa a história desse servo que, para dar a vida entrega a sua, fale à nossa história.
«Eis o meu servo, que Eu amparo, o meu eleito, que Eu preferi». (Is 42,1)
Eleito por Deus. Como tu e eu. Eleitos porque somos únicos. Porque a nossa forma de ser, a palavra que pode sair dos nossos lábios, nada mais poderá pronunciar. Eleitos a partir de uma ternura que atravessa a eternidade para nos mostrar quanto importantes somos.
Faz-me lembrar as lendas, os grandes clássicos da literatura ou até mesmo os mitos: o eleito tem uma missão. Nestes dias espreitamos a vida do “eleito” de Deus: Jesus. Ao mesmo tempo somos chamados a tomar consciência que também nós: eu e tu fomos eleitos por Ele, para levar a justiça às nações. Vês-te como eleito de Deus? Sentes que tens uma missão, hoje aqui e agora? Que queres responder? Que te apetece responder?
«Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador». (Is 53, 7)
Hoje em dia subsiste uma lógica que não nos conduz a lado nenhum. Uma lógica que apenas gera incomunicação, afastamento e solidão: a lógica do mais forte. A lógica da guerra. A lógica do ódio. A de uma verdade que se impõe pela força. A de quem constrói a partir do poder…
Nestes tempos Jesus mostra-nos uma outra lógica. A de quem responde ao mal com o bem. A de quem faz silêncio diante da mentira, porque sabe que a verdade brotará sempre mais forte. A de quem não se vinga, mas mesmo assim não volta a cara ao injusto. A de quem, em lugar de lavar as mãos, as mancha e as suja ao tentar aliviar e limpar o que necessita ser transformado. A de quem, contra toda aparência, vencerá a morte. Como reages diante desta lógica? Gera-te paz, dá-te motivos, inquieta-te. Produz-te aceitação ou rejeição?
«11Por causa dos trabalhos da sua vida verá a luz. O meu servo ficará satisfeito com a experiência que teve. Ele, o justo, justificará a muitos, porque carregou com o crime deles». (Is 53, 11)
Coragem! A última palavra será a da vida. Por detrás da paixão vem a glória. Por detrás da cruz a ressurreição e o sepulcro vazio. As lágrimas darão espaço ao alívio. O desespero à esperança. Porque as histórias em Deus encaminham-se para a plenitude, que nada, nem a morte, pode vencer.
Porque a justiça se alcançará, invencível, sobre o injusto. Isto, não apenas na outra vida. Acredito que é uma mensagem sobre o nosso hoje e o nosso agora. Sobre a vontade de lutar. Sobre a coragem para abraçar a vida em toda a sua intensidade. Sobre a consciência de que não vale a pena render-se. Porque Deus está connosco.
Vives com esperança?
Vives com fé na lógica invencível de que a vida se impõe?
Padre Carlos Almeida
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