segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Semana dos Seminários 2011 | 6 a 13 de Novembro | "Formar pastores consagrados totalmente a Deus e ao seu povo




TOMAI, SENHOR, A MINHA VIDA

- O retorno dos dons recebidos -

Semana dos Seminários 2011


A Igreja celebra entre os dias 6 e 13 de Novembro a Semana dos Seminários que, este ano, chama a atenção para a necessidade de formar pastores consagrados totalmente a Deus e ao seu Povo.

A nossa Diocese tem assistido, nos últimos anos, à brutal diminuição do número de Seminaristas e do número e capacidade de trabalho dos Sacerdotes. Diminui o número de Sacerdotes e aumenta, consequentemente, o tipo e a extensão do trabalho de cada Padre. Quanto aos Seminaristas, temos actualmente três no Seminário maior (o André no tempo propedêutico, o Miguel Coelho no 1º ano de Teologia e o Miguel Serra no 2º ano) e cerca de quinze pré-seminaristas.

Como Diocese somos uma Igreja que, inequivocamente, tem contado com os seus Pastores consagrados totalmente a Deus e ao seu Povo. Acumulando e conjugando trabalhos, os nossos Padres têm conseguido, embora com reorganizações constantes e sucessivas, levar a todas as Comunidades a celebração da Eucaristia e o sabor sacramental do perdão de Deus.

Nos últimos anos, consciente, por um lado, da mudança de paradigmas existenciais e culturais e, por outro, da missão sacramental da Igreja, a nossa Diocese tem tentado implementar uma “cultura de vocação” sensibilizando os Sacerdotes, as comunidades cristãs, as famílias, os movimentos e organismos diversos para a construção de uma relação de complementaridade do compromisso cristão no trabalho vocacional. É essa complementaridade que se revela absolutamente urgente e incontornável. Complementaridade, aliás, que, em boa experiência de Igreja, se chama comunhão e se constrói com atitudes como o dom de si mesmo, a unidade, a autenticidade, a transparência e a verdade dos processos de evangelização. Não há soluções feitas, mas existem caminhos. Dentro da relação de complementaridade e comunhão, existem, por isso mesmo, imensos desafios e reptos que, por natureza, pesam sobre cada sector e organismo da vida da Igreja diocesana.

A beleza do Sacerdócio ministerial revela-se, na Igreja, com uma identidade e missão próprias. Cada Sacerdote vive o seu Sacerdócio emprestando-lhe características pessoais muito próprias em capacidades e limitações, mas sabendo que “transporta um tesouro em vasos de barro” e que, por isso, permanentemente tem de se referenciar à Fonte de todo o Sacerdócio, Jesus Cristo e a Igreja. Em rigor, e em nome da honestidade intelectual, não há lugar para a redução da identidade e missão do Padre a sucedâneos de opinião subjectivista que acabam por não ter força de chamamento porque não são portadores de projecto de vida. O que chama, porque tem beleza, é a fidelidade vivida como verdadeira profecia, essa fidelidade cujo nome na história é o amor e que dá forma à espontaneidade e à liberdade (Tudo me é permitido mas nem tudo me faz bem e me constrói). Só isso será uma ajuda para os que se sentem inquietos vocacionalmente. Só isso lhes valerá um projecto que agarra a vida toda, inteira, e nada deixa de fora, seguir Jesus Cristo. Não se dá a vida por qualquer coisa, muito menos hoje.

É, por isso, urgente e indispensável, enquanto cristãos, abrir o coração e a inteligência à compreensão e interiorização da identidade e missão próprias do Padre.

Dentro da mesma complementaridade do compromisso cristão no trabalho vocacional, encontramos as comunidades cristãs. São o contexto e o horizonte do surgimento das vocações, a Igreja viva nas nossas localidades. A, já há muitos anos, chamada “hora dos leigos” não pode significar apenas uma afirmação contra a que teria sido outrora a “hora dos padres”. Complementares uma da outra, estas vocações dizem, sobretudo, que esta é a “hora da Igreja”! E é dentro da raíz baptismal que nos faz Povo de Deus, Igreja viva, que são chamados os Sacerdotes para, por consagração, servirem os caminhos da fé dos seus irmãos baptizados.

Não aceitar o chamamento ao Sacerdócio (não querer ser Padre) e, ao mesmo tempo “clericalizar-se” enquanto leigo é absolutamente anacrónico. E, por carência de vocações sacerdotais, entrar num horizonte de absoluto relativismo na compreensão, identificação e vivência dos diversos ministérios e serviços eclesiais, é caminho de ambiguidade que não serve Cristo nem a Igreja. Os ministérios e carismas são para serviço e bem da comunidade e, nesse sentido, embora diferentes não se anulam, antes agem na construção da comunhão. É, por isso, prioritário que mesmo as comunidades onde já não existe Eucaristia todos os Domingos tentem perceber a relação existente entre o Presbítero e a Comunidade eucarística. É necessário perceber que um diácono, um ministro da comunhão e um padre, verdadeiras vocações, não são a mesma coisa e que a diferença que os distingue não é uma questão de “grau” nem apenas de jeito.

Na mesma complementaridade eclesial do trabalho vocacional, a família desempenha também um papel central. Não obstante todas as mudanças e alterações de paradigmas nos ambientes familiares, a família continua a ser o melhor contexto e horizonte de transmissão da fé e dos valores. E, num tempo de tanta atenção às liberdades e gostos pessoais, era muito importante as nossas famílias cristãs, juntamente com todas as outras possibilidades de realização, pesarem a possibilidade do sacerdócio como caminho dos seus filhos. Não se trata de “oferecer os filhos” sem contemplar as suas vocações e a sua liberdade, trata-se de criar um ambiente onde a consagração é tão natural como ser cristão. Um ambiente familiar que obrigue os filhos a “ir à Missa” mas, ao mesmo tempo, lhes impeça a Catequese, o Pré-Seminário e os diversos grupos ou organismos de participação comunitária, pode tornar-se degradante da própria fé e do sentido de Igreja.

A complementaridade na construção da cultura vocacional integra também os diversos movimentos e organismos que vivem e agem nas nossas comunidades cristãs e na nossa Diocese. São, por natureza, motores de vida cristã. E, pelos carismas próprios, chegam onde, muitas vezes, as comunidades paroquiais não conseguem chegar. Têm uma outra capacidade de acolhimento e de personalização dos relacionamentos e vivem a experiência da caminhada comum.

Embora respeitando sempre a identidade carismática de cada chamamento e de vocação na Igreja, o desafio que a hora presente faz aos diversos movimentos e organismos é o da consciência das consequências da comunhão. A Diocese e os seus serviços são campo de missão e esta hora pede, pela urgência da missão, o retorno dos dons de que se tem usufruído. Quando os movimentos de Igreja se deixam reduzir a “associacionismos”, então começam a reportar a estruturas supra-diocesanas que acabam por ter mais “autoridade” do que a Igreja local a que pertencem. O risco é o do progressivo esvaziamento das comunidades e de uma relativização da corresponsabilidade eclesial com a Diocese (que ao limite continua a ser quem tem a responsabilidade de fornecer instrumentos de vida cristã a todos os baptizados, incluindo os próprios Pastores). Quem não junta ... dispersa.

Semana dos Seminários é, por tudo isto, um excelente contexto de reflexão e de partilha. É fundamental hoje valorizar o Pré-Seminário diocesano, saber e conhecer as datas dos seus encontros e actividades; é fundamental promover uma estreita ligação e colaboração entre as Comunidades paroquiais e o Secretariado da Juventude e Vocações; é necessário valorizar a Liturgia da Paróquia – nomeadamente a Eucaristia e a Reconciliação - como contexto vocacional onde Deus fala e é acolhido; é necessário promover a oração pelos seminaristas e pré-seminaristas bem como pelas vocações em geral; é necessário referir e sublinhar o testemunho de Sacerdotes que tenham ajudado a construir a comunidade; é fundamental sublinhar a naturalidade e o sentido do “ser padre”; é necessário contactar pessoal e directamente algum ou vários rapazes no contexto da Paróquia e dos seus grupos ou actividades e propor-lhe o Sacerdócio.

É por esta ocasião que muitos cristãos participam com ofertas para a formação dos seus Seminaristas. Mas o desafio vais mais longe e pede que os cristãos, todos, ofereçam também a sua oração, o seu compromisso e a sua colaboração. Estamos em Sínodo e a grande ajuda da sinodalidade na Igreja é a de animar e nortear a avaliação do desempenho da própria Igreja e de regular a vida diocesana. O Sínodo na Igreja é um instrumento que promove, sobretudo, uma melhor e mais adequada planificação da acção evangelizadora para uma melhor concretização da missão de toda a Igreja: consolidação do tecido organizacional; adequação dos processos da evangelização e do Clero à nova realidade social (inculturação); actualização da prática religiosa como passagem de uma piedade privada e individual a uma espiritualidade e piedade litúrgica e comunitária; revitalização do tecido eclesial em geral: repartição de tarefas, análise de contextos, motivação à participação de todos com o que lhes é específico.

As vocações sacerdotais são, neste momento e na nossa Diocese, uma causa prioritária e fundamental. Peçamos ao Senhor, rezando, nos conceda as vocações sacerdotais de que a Igreja diocesana e o mundo tanto necessitam. E peçamos que as nossas famílias e comunidades sejam o campo fértil onde as vocações possam germinar.

pe. Emanuel Matos Silva
Reitor do Seminário Diocesano de Portalegre-Castelo Branco


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