quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

NOTÍCIA - "Somos cada vez menos e com mais idade"



Em entrevista ao "Ecos do Sor", o Provincial da Congregação da Missão diz que é urgente fazer uma reconfiguração de pessoas, obras e serviços


O Pe. Álvaro Cunha, é o novo Provincial em Portugal da Congregação da Missão dos Padres Vicentinos, substituindo no cargo o Pe. José Alves.


Ecos do Sor: Pe. Álvaro Cunha, assumir, aos 44 anos, o serviço de Provincial da Congregação da Missão é um grande desafio…
Pe. Álvaro Cunha: Vejo este cargo mais como serviço a desempenhar na nossa Congregação e para o qual fui nomeado pelo Superior Geral depois de uma eleição de todos os convocados de Portugal. Tenho o serviço de orientar a Congregação da Missão em Portugal, segundo as orientações da Igreja e da Congregação.


ES: A Assembleia-Geral da Congregação reuniu, em França em Julho passado. O Pe. Álvaro marcou presença como delegado. Nesta reunião surgiram as linhas de acção da Congregação a nível mundial para os próximos seis anos. Pode enumerá-las, de uma forma sucinta?
AC: Sim, Claro. A primeira área é a da formação permanente que tem várias vertentes. A primeira ideia é que nós, padres, nos formemos e que estejamos a par de tudo aquilo que são as normas e as orientações da Igreja, em geral, e da Congregação, em particular. A formação permanente abarca também a área da oração, a área da espiritualidade e a área do estudo, por exemplo. E para quê? Para que tudo aquilo que nós somos e ao que somos chamados a fazer seja de qualidade. A segunda linha de força é a de olharmos para a nossa realidade, Congregação, no mundo inteiro. Temos cada vez menos vocações. E temos de pensar como vamos fazer a gestão dos nossos recursos humanos, das obras e dos ministérios que temos. Em muitos países é necessário pensarmos em fazer uma reconfiguração das nossas obras e serviços. E isto porque também temos de fazer uma reconfiguração de pessoas. Somos cada vez menos e com mais idade.


Conjugar os esforços

ES: Outra das linhas que surgiu na Assembleia-Geral chama-se “Câmbio Sistémico”, que é, no fundo, uma mudança de sistema. Podia explicar esta linha de acção?
AC: É dirigida a quem somos chamados a ajudar: Os pobres. Trata-se de analisar qual será o sistema que está a provocar a miséria ou a pobreza. De qual será o sistema, no fundo, que está a provocar uma perca de valores. Poderá ser, ou não, um sistema politico-económico. Queremos, no fundo, tentar descobrir quais as causas da pobreza e o que leva uma pessoa a viver em situação de miséria monetária, mas também numa ausência total de valores. O Câmbio Sistémico é então tentar ajudar a pessoa a mudar a forma de se relacionar com todas estas coisas com vista a conseguir uma vida mais estável a nível económico, espiritual e religioso. Na Assembleia-Geral surgiu ainda uma quarta linha de acção, que é a da colaboração entre os vários ramos da Família Vicentina.


ES: Qual a expectativa que tem em relação à aplicação destas linhas de acção em Portugal?
AC: Julgo que vai ser um desafio. No nosso país somos 50 padres vicentinos. Somos ainda seis na vice-província de Moçambique. A grande maioria está acima dos 65 anos. Temos de conjugar bem os esforços e fazer uma gestão bastante cuidada dos nossos ministérios, das nossas obras e dos nossos serviços.


ES: Vivemos numa conjuntura económica difícil. As previsões para 2011 apontam para um ano de crescimento quase nulo. Qual vai ser a resposta da Congregação para o ano que agora começou?
AC: Penso que não há uma resposta única a essa pergunta. Vamos continuar com o apoio às pessoas mais necessitadas nas realidades onde estamos inseridos, obviamente. Não vamos agora começar a fazer coisas porque estamos num ano de crise. Não. Nós já fazemos isso. O trabalho das Conferências Vicentinas, no acolhimento às pessoas que vêm ter connosco, e o modo de estarmos e de vivermos, demonstram-no. Penso que não é necessário tomarmos medidas de excepção porque este vai ser um ano particularmente difícil. Se olharmos bem para a realidade destes últimos tempos, ela já tem vindo a ser difícil e nós não temos colocado de lado a responsabilidade de ajudar as pessoas que de nós precisam. Tomamos, muitas vezes, medidas de excepção mas não as apregoamos.


Atenuar a dor dos que mais sofrem

ES: Os padres vicentinos têm uma relação muito próxima com o país real no auxílio que prestam aos pobres e aos carenciados. Como está o nosso país, tomando a realidade que conhece das comunidades onde a Congregação está inserida?
AC: Para além de nós, existe outra face da Família Vicentina que contacta e trabalha mais de perto com os pobres e os carenciados. Falo da Conferência Vicentina. Posso dizer que existe um aumento das pessoas que nos batem à porta e que nos pedem ajuda. Ultimamente fala-se muito de uma nova pobreza, a “pobreza envergonhada”. O problema não é novo. É uma situação que se vem arrastando há muitos anos e que conduziu à situação em que nos encontramos. Hoje vive-se muito por conta da aparência. E por vezes a aparência torna-se uma doença grave. Causa estragos a nível pessoal, familiar e social. Vamos continuar a estar atentos a esta realidade nas nossas paróquias e dar a resposta que nos seja possível de forma a atenuar a dor dos que mais sofrem.


ES: Visita Ponte de Sor com alguma regularidade. Qual foi a missão que nos trouxe até nós, desta vez?
AC: Um dos serviços do Provincial é exactamente passar pelas comunidades, estar com os confrades, ter um acompanhamento pessoal e sentir as suas dificuldades, problemas e expectativas. Por outro lado, saber como vamos concretizar as linhas de acção delineadas na última Assembleia-Geral e os objectivos para este triénio. A minha vinda nesta ocasião é nesse sentido. Vim escutar os meus confrades tendo em vista as respostas que vamos dar nas Paróquias de Ponte de Sor e de Longomel.


ES: A 25 de Janeiro celebra-se a fundação da Congregação da Missão. Quais vão as celebrações previstas para assinalar o aniversário?
AC: Vamos fazer um encontro na nossa comunidade de Santa Quitéria, em Felgueiras. São todos convocados para uma sessão de apresentação do Conselho Provincial, onde vão surgir algumas orientações do que vamos fazer este ano e ao longo do triénio. Mais tarde teremos a Eucaristia e depois um almoço convívio. Estamos em muitos lugares e encontramo-nos muito poucas vezes, logo, penso que vai ser um momento muito especial de confraternização e partilha entre a comunidade vicentina.


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