domingo, 7 de novembro de 2010

Semana de Oração pelos Seminários | 7 a 14 de Novembro




Senhor, quero o que Tu queres - a profecia de esperar vocações sacerdotais


Semana dos Seminários - 7 a 14 de Novembro 2010



A Igreja vive mais uma vez, este ano entre 7 e 14 de Novembro, a já habitual Semana dos Seminários. É a ocasião de rezar pelo Seminário e de com ele fazer alguma partilha. E é a ocasião e a oportunidade de relançar o desafio da reflexão sobre as vocações ao Sacerdócio ministerial na Igreja e sobre os contextos em que se formam os novos padres.

Cada vez que reflectimos o Seminário olhamos sempre para ele como uma continuidade daquela primeira comunidade que os discípulos formavam com Jesus. Foram chamados a partir das suas vidas normais por Jesus que passava e tinha para eles um projecto de vida, seguiram-n’O, andaram com Ele, ouviram as sua palavras, contemplaram as suas acções, confrontaram-se e debateram-se com as necessidades da mudança das suas vidas, acolheram a radicalidade do chamamento e acolheram, sobretudo, o dom do Espírito para a missão como arautos de Cristo ressuscitado. Em novas coordenadas de tempo, espaço e cultura, os nossos Seminários são o ambiente em que muitos jovens recolocam hoje esses mesmos dinamismos.

Sempre que se fala dos Seminários reflecte-se também o número de jovens que neles entra e que, depois, abraça o Sacerdócio. Não sendo redutível a números ou a meras estatísticas, a vida cristã pode encontrar neles, contudo, uma evidência ineludível, um desafio e uma oportunidade. E, na nossa Diocese, a evidência, brutalmente irrefutável, dos números assusta. Não conseguimos dar o justo descanso aos Sacerdotes que, se o desejassem, já o mereciam e também não temos conseguido chamar muitos jovens ao Seminário e ao Sacerdócio.

O que de bom pode ter o “susto” é que, quando não nos imobiliza, nos torna mais atentos e dispertos. E, fruto de muitas coisas e, sobretudo, da Graça de Deus, temos um pequeno grupo no Pré-Seminário que todos os meses se encontra no Seminário de Alcains e temos em Lisboa – no itinerário de formação dos Seminários de S. José e dos Olivais em conjugação com a Universidade Católica – três Seminaristas: o Miguel Coelho (de Montalvo) no tempo propedêutico; e o Miguel Serra (de Nisa) e o Pedro Dias (de Cº Branco) no 1º ano do curso teológico. No próximo ano, querendo Deus e os homens ajudando, entrará no tempo propedêutico mais um jovem da nossa Diocese até agora em discernimento no Pré-Seminário.

Nego-me, pois, a acreditar que Deus não chame mais jovens para O seguirem e O servirem na Igreja. A crise, se existe, não é de chamamento. É de resposta! Deus continua a chamar mas há falta de quem responda com a entrega da vida.

Se não se pode interrogar a desertificação populacional e social dos nossos territórios geográficos, se não se pode interrogar a liberdade das escolhas pessoais por outros caminhos que não o sacerdotal, podemos, ao menos, seguramente, interrogar o tipo de instrumento de transmissão da fé que, enquanto comunidades de Igreja, somos e fazemos presente.

Toda a vocação é uma história de liberdade em processo de oferta até ao dom total de si. Sempre em liberdade. Não há nada mais forte do que uma liberdade cativada e entusiasmada. E o mais bonito da liberdade é que, precisamente quando reconhece sentido num projecto ou faz a experiência do amor, tem uma ousadia de resposta e de compromisso fortíssimos. Ninguém pode responder em vez de ninguém e ninguém tem vocação em vez de ninguém. Mas todos podemos ajudar a que cada pessoa descubra o melhor da vida e o melhor que tem em si e para dar.

Seguramente que a renovação dos nossos quadros vocacionais passará pela renovação das famílias enquanto escolas de valores, escolas de oração, escolas de fidelidade e de amor, escolas de alargamento de horizontes, escolas de obediência e de confiança, de misericórdia e de caridade. Seguramente quem sim.

Mas, e por anda a experiência da grande família que somos como Igreja, a grande família de Deus!? Teremos perdido, por falta de fé e de oração (à qual adicionaríamos a meditação da Palavra, a fidelidade, o testemunho, a entrega) a capacidade de sermos escola de oração, de fidelidade e de amor, de obediência e de confiança, de misericórdia e de caridade!? Teremos tido a tentação de reduzir a Igreja apenas a uma factor e fenómeno sociológico!? Mas a vocação a ser Igreja e a vocação ao sacerdócio não se resumem a algo apenas do foro sociológico. Não se pede a um jovem que seja padre por favor como não se pede a um jovem que seja pai por favor ou que seja feliz por favor. O núcleo da proposta vocacional tem de brotar de outro dinamismo. Pode brotar de muitas maneiras e por muitos e diversificados caminhos mas, na sua maior profundidade, é sempre oferta e dom de si. É fruto e expressão da nossa própria vitalidade cristã desinibida, ousada, alegre, com sentido, com profundidade. A proposta vocacional não é um convite a reduzir perspectivas ou a estreitar horizontes. É antes um convite a confiar em Deus, a alargar os horizontes n’Ele e pela perspectiva do seu olhar sobre o mundo e sobre o próprio homem. Quem hipotecaria o seu futuro por uma proposta frouxa, sem garra, sem alegria e sem fé?! E como seremos nós, Igreja, capazes de entusiasmar genuína e autenticamente os nossos jovens por Jesus Cristo ao ponto de darem por Ele as suas vidas?

A nossa Diocese tem Famílias Cristãs, tem Presbíteros, tem Leigos cristãos empenhados, tem Ministros Extraordinários da Comunhão, Ministros da Celebração na ausência de Presbítero, Professores de Religião e Moral e Professores cristãos, Animadores e Líderes de Grupos, Movimentos variados e Organismos paroquiais diversificados, Catequistas, Escuteiros, Grupos de Jovens, Religiosos e Religiosas, Diáconos Permanentes (e em trânsito), Visitadores de Doentes, Centros Sociais paroquiais, Animadores da Liturgia, Coros e chefes de Coro, Zeladoras de Altares, Grupos de reflexão do Plano Pastoral, imensos Secretariados e/ou Departamentos, Adoradores do Santíssimo Sacramento, Institutos seculares e de Vida Consagrada, Sacristães, etc, etc.

Como é que cada um se perspectiva em relação à vocação ao Sacerdócio ministerial? Que palavras escolhe cada um quando chega a hora de reflectir o mesmo Sacerdócio e de o dizer aos outros? Com que entusiasmo, alegria e sentido se reflectem as vocações (e em particular a Sacerdotal) nos contextos em que cada um é responsável? Que reacção pública e privada se tem diante das propostas da Igreja diocesana? O que se espera individual e comunitariamente do padre? Com que coragem se é capaz de propor a vocação sacerdotal como possibilidade a um jovem? Como se têm ajudado os jovens que tenham confidenciado viver com uma interrogação vocacional? O que conta mais nas nossas decisões, o bem da Igreja ou o nosso pequeno grupo?
No início da sua pregação, Jesus, depois de ter falado às multidões a partir da barca, disse a Pedro: faz-te ao largo e lança as redes (Lc 5, 4 s). O Apóstolo e os primeiros discípulos confiaram na Palavra de Cristo e deitaram as redes. E, tendo-o feito, diz o Evangelho que apanharam uma grande quantidade de peixe (Ibid).

Para chegarem um dia ao Presbitério, às Comunidades paroquiais, aos diversos organismos e serviços, os padres têm de nascer, precisamente, do cuidado e da oração do Presbitério, da atenção e da oração das Comunidades paroquiais, da oração e da experiência de comunhão de todos os organismos e serviços.

Hoje, na Igreja, é profético tomar a sério o chamamento de Deus e esperar vocações ao Sacerdócio ministerial.


p. Emanuel Matos Silva - Reitor do Seminário Diocesano


Sem comentários: